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Mensagem por Yoshihime Qua 18 Set 2013 - 13:51

Catarina

A luz do sol se esforçava para entrar no quarto, passando pela fresta da cortina, incidia sobre o rosto da garota que estava deitada na cama. Conforme o leve vento balançava as cortinas a luz caminhava pelo quarto, pelo vestido azul celeste, pela garrafa de rum vazia no chão, pelas sapatilhas brancas ao lado da cama.

O vento parou. A luz então beijou o rosto de Catarina. Era quente. Ela pestanejou, em seguida abriu devagar seus olhos. Sua cabeça pulsava, sentia suas pálpebras pesadas, sua boca seca, estava com sede. “Maldita ressaca” pensou ao olhar a garrafa de rum no chão. Sentou na cama levando a mão esquerda até a cabeça.

Checou no pulso direito as horas. Eram 9:48 de sábado. Olhou ao redor. Dormira por cima da florida colcha da cama de casal. Reconheceu o quarto dos pais de Maria. A enorme parede negra contrapondo as outras três brancas. A porta fechada para o closet. Tapetes, quadros, e outros enfeites que tentavam embelezar o espaço.

Lembrou-se das verdades que dissera para Maria na noite passada. Uma série de coisas que carregava há um tempo entaladas na sua garganta. Aquilo faria bem a sua amiga e a ela mesma. Cresceram juntas, era preciso compartilhar aquela sinceridade, como bebida.

Foi tomar um banho. Seu momento de reflexão. Gostava de abrir o chuveiro quente e entrar debaixo dele. Sentir a água em suas costas. Chegava uma hora em que a água começava a queimar, nesse momento ela saia do lugar, dava um profundo suspiro de prazer e retornava.  Ocupava sua mente com pensamentos sobre política, amigos, família e besteiras.

Pensou, o que faria nesse sábado? Podia estudar para o vestibular, algo importante a se fazer. Abaixou a cabeça e viu fios de seus cabelos castanhos descerem pelo ralo. “Só vivemos uma vez” pensou. Estudaria sim, mas só o que gostava, de resto aproveitaria.

Enxugou-se com a toalha de Maria que estava no banheiro. Quando estava vestindo sua calcinha reparou no espelho que refletia sua imagem em uma superfície embaçada. Olhou no fundo de seus próprios olhos negros, por cima de suas olheiras, falara com sua amiga sobre a personalidade artificial dela, mas enquanto a si? Quem realmente era Catarina? Quem é está garota que carinhosamente chama de “Eu”? Ela não sabe, não consegue se encontrar. Consegue falar tanto sobre os outros, e nada sobre si mesma. Consegue ajudar a qualquer um de seus amigos, porém não se ajuda.

“Que merda eu vou fazer da minha vida?” perguntou a si mesma, sem responder, quando continuou a se vestir. Pensou então que nós não conseguimos reconhecer a nós mesmos porque sabemos demais sobre quem chamamos de “eu”, não sabemos muito sobre mais ninguém, deles só há impressões, das quais podemos falar horas a fio, mas nunca são reais. Por isso odiava estar sozinha, era estar diante de alguém complexo e indecifrável

(capítulo não terminado e jamais continuado)

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Mensagem por Caio. Sáb 21 Set 2013 - 18:42

Cara, ficou bom. Pena que você não continuou, slá. O final... O final foi horrível, bem escrito, mais horrível. Horrível sendo tocante, como sempre. É aquele tipo de texto que não é bom de se ler quando se pergunta certas coisas.

Ou não, leia do mesmo jeito.

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Mensagem por Yoshihime Qui 26 Set 2013 - 11:33

I

Acordou. Sua boca estava seca, tentou umedecê-la desesperadamente com saliva. Abriu os olhos lentamente, seus cílios levemente colados. Com sua visão confusa viu algumas garrafas no chão, os três finos colchonetes empilhados não pareciam tão macios quanto quando deitara.

Sentou levando suas magras mãos ao rosto e fazendo seus dedos compridos escorrerem por ele. Olhou através de uma porta meio aberta. Viu um corpo feminino de costas, vestindo um surrado vestido azul, com cabelos castanhos bagunçados caindo no meio das costas. Olhou ao seu redor e viu as coisas de todos os outros arrumadas, na medida do possível. Era o último a acordar.

Ah, desculpe minha falta de cuidado. Não cheguei a dizer quem é esse garoto desleixado, com longos cabelos despenteados e oleosos, magro, de pele extremamente branca, um rapaz de 21 anos, atende por Rogério, ou qualquer apelido engraçadinho que receba. Estuda filosofia e recebe dinheiro constantemente de seus pais que moram em Minas Gerais.

Depois de levantar foi andando lentamente, ainda sonolento, até a cozinha. A garota cozinhava algo em uma grande panela prateada e amassada. Ele abriu a geladeira pegou uma garrafa de água, virou em sua boca seca e bebeu em longas goladas. “Bom dia, Estrela”, disse para ela enquanto voltava para a sala.
Vasculhou o bolso de um casaco verde que estava jogado sobre o sofá, achou um maço de cigarros, pegou um, acendeu. Sentou olhando para o teto e fumando, pensativo.

A fumaça se dispersava pelo apartamento como bem provavelmente seus pensamentos faziam em sua mente.

— Estrela, onde foram? — gritou.

— Não sei. — Respondeu a voz vinda da cozinha.

— Estrela, que horas são?

— Não sei ao certo, olha ai, mas já passou do meio-dia.

Revirou um dos bolsos de sua calça até achar seu celular, olhou as horas, marcavam 13:36.

— Quase uma e quarenta já, Estrela.

Ela respondeu emitindo um estranho som, algo como “oooooo”, uma indecifrável interjeição pra mim, mas que ele pareceu entender.  

Estrela tem dessas coisas, usa sons sem qualquer significado para expressar seus pensamentos, qualquer um que ouve pela primeira vez é capaz de pensar que ela possuí algum tipo de problema mental, talvez tenha, mas o fato é que seus colegas conseguem decifrar todas suas expressões.  Ela é ilustradora e quadrinhista por paixão, mas enquanto esperava sua carreira decolar trabalhava durante a semana em uma lanchonete em Botafogo, essas de asiáticos, Sabe?. É a mais nova de todos, com 20 anos.  No sexo é daquelas que fuma durante o ato.

— Domingo e ressaca são coisas que combinam, ambas são uma merda. — ele deu uma longa tragada em seu cigarro e ficou olhando para o teto, como se houvesse algo de maravilhoso no ventilador que ali estava — Estrela, isso cheira bem, o que é?

— Tentativa de espaguete à carbonara, mas não sei se vai dar muito certo.

Rogério levantou foi até a janela. Abriu. Acendeu mais um cigarro e ficou olhando o fraco movimento da rua como se procurasse algo, como se estivesse buscando um sentido em tudo aquilo, mas eram só pessoas e carros e nada disso faz muito sentido.


Tomei uma dose de uísque, para ajudar a descer quem entrou no apartamento em seguida, a pessoa mais intrigante de todas as cinco que por lá moram.


Ela entrou arrastando os chinelos pelo chão. Seus lábios grandes e rubros estavam sutilmente abertos como se ela soprasse bem de leve constantemente, em uma fricativa infinita, sssssssssssssssss, fffffffffffffff, vvvvvvvvvvv, zzzzzzzzzzzz... Seus cabelos curtos e tingidos de ruivo. Uma echarpe azul parecia tentar enforca-la. Carregava dois livros de teoria do teatro debaixo de um dos braços, na mão do outro carregava um cata-vento.

Jogou os livros sobre o sofá. Caminhou até a cozinha e lá retirou de um dos bolsos de seu vestido vermelho um pedaço de queijo brie embalado. Roubado, provavelmente.

Queijos de supermercado são feitos para serem furtados. São embalados em pedaços que cabem perfeitamente no bolso e custam preços nada justos. Afinal, são só queijos.

Essas palavras foram dessa garota, Catarina, que aos 21 anos de idade parece não fazer sentido. Talvez não faça, essa é uma idade da perdição mental

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Mensagem por Umbreon_NICE Qui 26 Set 2013 - 14:55

oooooo
Se for na sonoridade que estou pensando, uma amiga minha faz isso também as vezes, com se estivesse surpresa com algo. Ficou bacana, principalmente o primeiro texto, um final interessante e com uma observação bem realista. Somos complexos por dentro, difíceis. Quero conhecer mais sobre Catarina.

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Mensagem por Yoshihime Qui 26 Set 2013 - 15:15

ah sim, vale esclarecer, algo que não lembrei, que a catarina dos dois textos não são a mesma

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Mensagem por Caio. Qui 26 Set 2013 - 16:30

Esse foi algum tipo de rascunho de estrela? Se foi, acho que a fic realmente tenha ficado melhor. Esse texto ficou tão... Melancólico, ao mesmo tempo que me lembrou alguns contos modernos de 80, 90 e pouco. Não sei o porquê.

Mas a vida, a vida é louca. Quando eu observo os carros na rua, penso que, realmente, os carros não fazem sentido. Por isso, não tento imaginar os carros, tento imaginar as pessoas passando pra lá e pra cá, sabe? Um constante vai e vem, destinos, pessoas, vidas, coisas acontecendo. Isso é bom pra se encher por dentro.

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Mensagem por Yoshihime Sex 27 Set 2013 - 12:23

Caio. escreveu:Esse foi algum tipo de rascunho de estrela? Se foi, acho que a fic realmente tenha ficado melhor. Esse texto ficou tão... Melancólico, ao mesmo tempo que me lembrou alguns contos modernos de 80, 90 e pouco. Não sei o porquê.

Mas a vida, a vida é louca. Quando eu observo os carros na rua, penso que, realmente, os carros não fazem sentido. Por isso, não tento imaginar os carros, tento imaginar as pessoas passando pra lá e pra cá, sabe? Um constante vai e vem, destinos, pessoas, vidas, coisas acontecendo. Isso é bom pra se encher por dentro.
não, eu que gosto dos nomes Estrela e Catarina ai costumam aparecer em muitas coisas que eu escrevo

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Mensagem por Mag Seg 30 Set 2013 - 22:23

O primeiro texto eu já havia lido, né, Gui? Faz tempo... era parte do teu romance desistido. Tem outros capítulos dele que talvez tenha valor mesmo separado e incompleto. Afinal, acho que nem este aí você pretende terminar. Enfim, eu gosto dele, e gosto também daquele dos três garotos otakus amigos, um crente, outro [palavra censurada], tals...

O segundo... Tenho a leve impressão de que é uma espécie de reescrita da sua segunda tentativa de romance... Reescrita talvez, porque ele não estava exatamente assim quando li. Mas o que mais me intrigou nele agora foi sem duvida o narrador, que fala numa voz pessoal, singular e que está presente no cenário narrado... mas ele em si é uma grande incógnita, até porque parece ter acesso ao que os outros personagens pensam, como no caso do Rogério que observa a cidade pela janela.

O último talvez tenha continuação, não é? Vejamos então...

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Mensagem por Yoshihime Dom 27 Out 2013 - 0:06

faz um tempo que não posto poema em público, assim, de-vagar

tequila,
 
suas pernas longas, sobre as minhas,  acariciam, delicadas. meus joelhos ralados, olhar lotado em álcool, riso de escárnio em misto de paixão, deslizar das unhas nas costas apertar de dentes nos lábios, cheiro de tequila. com limão e sal no colo você diz coisas que em sonhos procurei, evitei ouvir. caleidoscópio entre ilusão e realidade, discurso duotone. ânsia sobe à cabeça, você me carrega, segura meus cabelos vomitamos juntos, choramos. copo quebra, fagulhas pelo ar me larga, tudo é palpável, menos você. junto os cacos, a porta bate. luz incerta na origem se esgueira pela  fresta da cortina, me toca a nuca. no sofá a trouxa enrolada sente já sua falta. tomo mais uma última dose de amargura, deito, busco

portulaca grandiflora,
 
“geminiano, olhe bem, mais pro lado, tá bom?, nessa luz vermelha, espera, que blusa é essa?, abotoa direitinho, que merda é essa na cama?, deixa que eu arrumo essas coisas, ai, geminiano, por que isso tudo?, você tem que tomar cuidado, fala mais solto, bicho, sua lua em capricórnio tá te travando o cu, é?, eu sei que tu fala bem, cara, é em vênus, olha,”, viro as três cartas na mesa debaixo da janela, onde o nublado se refletia, A Estrela, Roda da Fortuna, A Imperatriz, olho pra ela, aquele olhar clínico de virginiana, percorrendo o quarto, enquanto pragueja, jogando minhas coisas no armário em uma arrumação que vou desfazer em breve, ela deixou uma flor rosa em um copo de requeijão na minha mesa, giro com o indicador, é tudo tão (extra)contidiano com ela, mas eu já deveria saber, ela não ia pegar a barca assim, por nada, pro banal, pego a carta de número dez de entre as outras duas, “então qual é?”, digo segurando entre o indicador e o médio, “qual é o que?” diz ela, erguendo os olhos, com aqueles brincos longos que lhe tocam o ombro, “qual é o nosso problema?”, “não há nenhum problema com a gente”, “não, escuta, você não tá entendendo, qual o nosso problema com o além da tela?”, “nosso problema com além da tela não existe, cara, é o problema deles com eles mesmo”, “é, mas não é só isso, tem algo mais, além, no fundo desse quarto”, “poeira, eu, você, essa flor, portulaca grandiflora, sabia?” “não, eu nunca sei...”, “errado, você sabe demais, esse é o problema, sabe demais das coisas erradas, geminiano”, ela caminha até o rádio no canto, liga só estática, estação nula, “a gente têm que saber menos, sentir mais, cara, você tem um cigarro aí?”, retiro o maço do bolso da camisa e entrego pra ela, “tudo tão bonito sempre, par ficar teorizando sobre, às vezes a gente só tem que estar no meio, esse é o problema deles com eles, tantas telas, não se pertencem, não são”, acendeu o cigarro, passou a mão pelos cabelos curtos, pegou o copo, retirou a flor e jogou ela entre os espaços da tela da janela, virou de volta pro quarto e continuou arrumando meu armário

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Mensagem por Caio. Dom 27 Out 2013 - 0:45

Well, eu gostei bastante desse tequila porque a maneira como você o escreveu fez parecer um porre. Ou, ao menos, imagino que a sensação de um porre seja mais ou menos assim. É estranho ler algo assim, meio diferente, meio psicodélico e ver a sua barrinha secret ninja piscando loucamente.

O segundo você se baseou bastante em Caio, não? Ele faz bastante coisa nesse estilo, bastante coisa com esoterismo, lua em vênus, em capricórnio, Marte na Terra, abstrações loucas dos cosmos e de tarot, textos "sem sentido", "quebrados", que, acredito que sei o porquê, gosto bastante. Mais um romance, mais um espasmo no escuro, uma história que se perderá, slá.


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Mensagem por Mag Sex 1 Nov 2013 - 4:34

Não sei o que me fez, alguma coisa tá me impedindo de comentar. E outra coisa muito mais impressionante e esmagadora me diz que eu não posso inventar falsidades pra escrever aqui, necessidade de ser preciso e verdadeiro, de ser por isso vago e ineficiente, de ser eu / não.


mas sim, vem... a coisa é amarga, melancólica, carcomida pelo tempo e a busca é sem fim, nunca houve palavra mais eternizada do que busca, esperança, vã, coisa humana do [palavra censurada]. Amei o desfecho escabroso desse texto, a forma abrupta que a reminiscência embriagada propicia é de uma sensibilidade delicada e delirante, nesses contrastes mesmo.

E falar de geminianas pra mim só me lembra a música da Ellen... das matérias primas a se aperfeiçoar, então... então deixe, é tudo (extra)cotidiano mesmo, não é?

Desculpa a demorada. Nada como uma segunda madrugada pra recolocar em harmonia o ritmo que é atropelado pelo tempo inconsequente e descontrolado.

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Mensagem por Yoshihime Qui 16 Jan 2014 - 0:29

Verão veio

O Sol queimava. 16:13. O Sol queimava, nos queimava, queimava a estrada de terra debaixo de nossos pés, os nossos pés, nossas bicicletas, luz que passava entre a poeira que levantamos voava até nossos corpos. O mar se estendia lá embaixo do morro, plantações de abacaxi por todos os lados. Há meia hora nenhuma palavra entre nós, o sol queimava, me queimava por dentro, queimava o peito, fazia evaporar por de trás dos meus olhos a saudade. Era nosso último dia por lá.

E nós parados. Sempre parávamos ali, no topo de uma longa ladeira de terra vermelha. Respirei fundo, tirei o boné, o suor da testa se confundia com lágrimas. Talvez em parte fossem. “é assim, tudo tão rápido sempre”, Ana disse com aquele sotaque de BH, finalmente, enquanto prendia os cabelos negros, sorrindo, ou tentando, os pés inclinados, para que com as pontas se equilibrasse, se fincasse, e a bicicleta não a derrubasse parada, os chinelos verdes não se estendiam com o pé, nunca. Demorou meia hora para saírem, as palavras. Logo em seguida Gregório se aproximou, debaixo de seus óculos escuros talvez os olhos se revirassem em lembranças daquele nosso verão, abriu uma primeira vez a boca em falso, e como se não estando preparado ainda, fechou, se aproximou mais um pouco empurrando a bicicleta com as pernas. “verão sempre volta”, tentando não bancar o sentimental, o saudosista.

Eu não disse nada, minha cara se torceu, tentava um sorriso, mas tensa demais pra isso, tensa e triste. Soprei. Empurrei com a perna e desci a ladeira, sem dizer nada. Lá em baixo, no quiosque de beira de praia a primeira das últimas cervejas gelava.



“já perceberam como aqui, na praia, longe das cidades que engolem, o céu é estrelado?” Ana girava seu copo na mesa com três dos longos dedos, enquanto seus olhos voavam pelo céu realmente estrelado. Luzes paradas fora dos prédios, dos engarrafamentos, luzes que na sua distância se pregam quase eternas, que não se apagam de minuto a minuto. O som do vento, do mar, sons estáveis, o conforto da areia sob os pés, a cerveja gelada pelos lábios. Um deboche de Gregório, uma risada de Ana. Amanhã já vou olhar outras luzes, ouvir outros sons, a instabilidade volta, os carros passam, os ônibus lotam, pessoas estranhas.



Na estrada, pela janela do carro, o céu parece tão limpo, na minha boca saudades das cervejas e conversas, o perfume de Ana ainda na minha roupa, aqueles conselhos de Gregório estalando no ouvido. Evaporando mais por dentro.



O céu aqui não é estrelado, as luzes nos prédios se apagam de minuto em minuto, desço, no bar gela a cerveja, a primeira da espera.

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Mensagem por Mag Ter 21 Jan 2014 - 5:37

uma pequena delícia esse seu texto, Gui

a repetição sucessiva de algumas sentenças fez uma marcação muito bacana, que remete ao próprio contexto da situação narrada

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Mensagem por Caio. Ter 21 Jan 2014 - 14:26

Cara, amei esse texto. É mais ou menos como eu me sinto saindo daqui pro rio. Ou indo embora da praia. É sempre assim... Sempre. Gostei bastante.

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Mensagem por laser queer Sáb 11 Abr 2015 - 1:31

Já que estou anos atrasado vou fazer uma tentativa de comentar todos de uma só vez, porque é o que eu imagino que gostaria que me fizessem, caso o caso não fosse o caso.

Uma coisa que não foi muito difícil de reparar, mas que vou dizer que adorei, e que se pá é algo comum aos seus textos no geral, ou à maioria, pelo que já vi, é o ar que eles dividem. Eles parecem estar ligados, de certa forma, a atenção que você dá a alguns pontos corriqueiros, as próprias situações de intimidade com o leitor em que os personagens se encontram, também corriqueiras, além do cenários, pelo fato de não mudarem muito (mas que não acredito que derrubariam esse aspecto em caso de mutação, mesmo que brusca), juntos, passam a ideia de um quadro cotidiano, como o funcionamento dos roteiros de episódios independentes de seriados, não se conhecem os personagens, mas estes mostram-se facilmente digeríveis, apesar de se descobrirem ao longo da narração.

Tirando isso, não tenho muito o que falar sem ser mais específico. Adorei todos, com certeza voltarei para reler, reler e reler quantas vezes eu conseguir me lembrar que o fórum ainda tem um lado gostoso.


Última edição por laser queer em Sáb 11 Abr 2015 - 1:41, editado 1 vez(es)

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